Por que todo mundo anda viciado em TikTok?

Nesta edição: Talvez você não tenha TDAH — é só o seu cérebro que foi sequestrado por vídeos de 30 segundos nos últimos anos.

Desde 2020, a forma como consumimos conteúdo nunca mais foi a mesma

Não faz uma década que a gente assistia capítulo de novela por uma hora inteira, quem lembra? Hoje, o usuário médio passa 95 minutos por dia no “buraco do coelho” do TikTok, segundo pesquisa internacional do Media Marketing. A plataforma descobriu que basta a duração de um respiro para prender olhos e polegares: a maior parte dos clipes tem menos de um minuto, e esse formato já está contaminando todas as outras redes, do Reels ao Shorts. Resultado? O cérebro aprende que, se algo não faz barulho nem entrega punchline em três piscadas, vale deslizar para o próximo. Ele não perdeu a capacidade de atenção — só está em greve contra qualquer coisa que exija fila de espera.

Dopamina em rodízio: cada deslizada do dedo é uma drog@ para o cérebro

Neurocientistas descrevem o fenômeno como “TikTok brain”: a sucessão de clipes imprevisíveis dispara micro-explosões de dopamina, o neurotransmissor da recompensa. O truque do algoritmo é velho como caça-níquel — mistura de “quase acertei” com surpresa constante. Quanto mais variável o prêmio (ou o vídeo, rs), maior a vontade de puxar a alavanca de novo (deslizar mais pra baixo).

Adolescentes em modo turbo: a primeira geração criada a 1.000 cliques por minuto

Se para adulto já é difícil, imagina para quem nasceu depois de 2010. De acordo com uma pesquisa de 2024 da Pew Research, 58% dos adolescentes dizem usar o TikTok todo dia, e 17% admitem ficar lá “quase o tempo todo: durante o banho, antes de dormir, na hora das refeições e, principalmente, durante as aulas”. Entre jovens não-brancos esse “uso constante” chega a um quarto da amostra, justamente pela falta de outras alternativas de entretenimento. Na mesma pesquisa, professores do mundo inteiro relatam alunos que travam na aula depois de poucos minutos. Não é preguiça escolar: é neuroplasticidade respondendo ao ambiente mais acelerado que já produzimos.

Cultura em modo microondas: narrativa compacta, poder concentrado

Mas se engana quem acha que a rede ao lado ainda é só dancinha. É política, saúde, tendências de consumo, religião e teoria da conspiração no melhor formato fast food de conteúdo. O feed “Para você” aprende suas fraquezas e devolve a dose exata para te prender em mais um round. O risco maior? A história contada em 30s lida mal com nuance, com contexto, com dados. Daí para frente, políticas públicas complexas parecem “vídeo longo demais”, debates viraram trend — e o que não cabe no vertical simplesmente some da conversa.

“TikTok Boom”: o documentário que abre a caixa-preta do app mais poderoso do planeta

Dirigido por Shalini Kantayya, “TikTok Boom” mergulha na engrenagem que entrega criatividade à superfície e guarda debates sérios no porão. Criadores Gen Z falam de ascensão meteórica — e de quando o algoritmo estranha cor de pele, sotaque ou opinião. Especialistas mostram como a disputa geopolítica China-EUA se infiltra no feed, enquanto ativistas de segurança apontam falhas que podem expor dados de meio planeta. É uma aula de como 15 segundos viram arma cultural, publicitária e, às vezes, política.


Neste texto e para ir além:

Filme: Tik Tok Boom


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