A crise climática é agora

Nesta edição: Reflexões sobre soluções inspiradoras para um mundo possível

Uma jornada pelo mundo em busca de soluções e inspirações, na esperança de ver o nosso planeta florescer de novo e dar espaço a uma natureza livre e próspera.

Quanto tempo mais nos resta no mundo? Uma pergunta ambígua que pode ser capaz de transformar a perspectiva que temos sobre como viver os próximos dias que ainda nos resta aqui, neste espaço que chamamos de Planeta Terra. Confesso que é duro pensar que tudo o que fazemos na vida tem um impacto direto ao meio ambiente.

Desde a roupa que usamos, o alimento que compramos, a forma como nos locomovemos e a energia que usamos. Tudo isso está ligado à crise climática, que é iminente, mas ainda há tempo de mudar. É preciso resistir, se adaptar e regenerar, se ainda quisermos estar aqui (Terra) para ver nosso futuro prosperar.

Crescer em lugares que te permitem criar um vínculo afetivo com o meio ambiente, pode mudar a realidade como enxergamos o mundo. Porque não tem como distanciar a crise climática do modo como aprendemos a viver.

Quando não temos esse privilégio, precisamos forjar essa consciência para contribuirmos com um mundo novo. É difícil mudar, eu sei que é. Nós ainda estamos correndo atrás do mínimo para viver, tentando chegar perto daquilo que sonhamos. Quando ainda se tem a oportunidade de sonhar. Não podemos esquecer que a crise climática é intrínseca às dores humanas, às violências contra meninas e mulheres, à fome e ao medo. Alguns anos atrás comecei a olhar com mais atenção para a pauta ecológica.

Cresci perto, mesmo que distante, de movimentos sociais que trabalham na construção de uma nova perspectiva de vida na terra. O Movimento das Mulheres Camponesas exemplifica bem o que quero dizer. As camponesas lutam pela preservação, conservação e proteção da natureza, mas também pela libertação da mulher. O coletivo é o que permeia a missão desses espaços.

A resistência na luta contra o uso de agrotóxicos nas plantações, o cuidado com o solo e a água, o reflorestamento, são pautas que também precisam ganhar a nossa atenção. Mas para além disso, é preciso lembrar da vida que habita as águas doces e salgadas, a caça ilegal de animais silvestre e os modelos energéticos que existem no mundo. É muita coisa para observar e mudar, mas é possível transformar o nosso olhar e os nossos hábitos para construir um mundo melhor (frase clichê). Eu gosto de pensar que temos a oportunidade de tentar. De mudar coisas básicas do nosso dia a dia e construir um espaço ecológico à nossa volta. Seja  diminuindo o consumo de carne, de plástico, até mesmo o jeito como percorremos nossas caminhadas da vida e o que deixamos que entre na nossa cabeça.

A ideia de um lugar melhor para se viver é o que aproxima a gente de uma perspectiva boa de vida, e é o que o documentarista, escritor e ativista climático Cyril Dion traz na série, “Um Mundo Novo”, disponível na Aquarius. A obra, que é dividida em três episódios, percorre o mundo buscando testemunhas, ideias, soluções e esperanças para a criação de uma consciência coletiva que pode ajudar na construção de um novo modelo de vida na Terra.

Resistir, Adaptar e Regenerar

Os episódios da série trazem à tona como as mudanças climáticas afetam o mundo e o que podemos fazer para mudar essa realidade. Mobilizações, projetos sociais, mudanças de hábitos são alguns dos caminhos que podemos seguir para contribuirmos para que a natureza não colapse até 2050, data tida por especialistas como um marco na crise climática. Segundo a Organização das Nações Unidas (ONU), em 2050, 2 bilhões de pessoas podem enfrentar um aumento alarmante da temperatura na terra.

Essas pessoas, na maioria em situação de vulnerabilidade social, vão precisar lutar ou fugir para sobreviver. São dados alarmantes que nos fazem refletir em que mundo queremos viver.

Dion conversa com especialistas, vai ao encontro de pessoas que vivenciam um modelo de vida alternativo e mostra como as mobilizações e projetos sociais têm uma importância enorme na luta contra as mudanças climáticas. Em sua passagem pelo Brasil, a série leva o espectador a Bahia, mostra ideias de como podemos nos adaptar a um novo modelo de vida, fala da importância dos alimentos saudáveis e de como isso impacta na vida das crianças. Uma jornada que passa pela América Latina, Ásia, Europa, fala sobre educação, alimentos orgânicos, reflorestamento, democracia e preservação.

Por fim: a crise climática não é um fantasma

Em 2020, no início do isolamento social por conta da covid-19, voltei à minha cidade natal para me refugiar na casa de minha mãe. Já era fim de tarde, e no alto da cidade, consegui ver o céu mudar de cor e um vento forte movimentar as árvores ao meu redor. Mandei uma mensagem para minha mãe se cuidar e diante daqueles ventos, me tranquei no banheiro de casa. Foram cinco minutos, talvez menos, o vento parou. Fui à janela e vi meu vizinho reclamando que a antena parabólica dele tinha caído do telhado. Não demorou muito e a notícia correu solta: um tornado tinha devastado dois bairros da cidade de 8 mil habitantes. Por sorte os ventos não atingiram o espaço que cresci, ou machucaram pessoas, mas devastaram casas e histórias por onde passou. 

A crise climática é agora e o que a gente pode fazer para mudar isso? Acredito que “Um Mundo Novo”, que assisti na Aquarius, pode nos ajudar a forjar ou recuperar essa consciência coletiva que precisamos para viver em comunhão com a natureza. Não tirar aquilo que não podemos devolver e não impor aquilo que não podemos controlar. A natureza nos dá aquilo que cultivamos, e o que nós queremos para o futuro?


Neste texto e para ir além:

Série: Um mundo novo


Ana Laura Baldo

Ana Laura Baldo é formada em jornalismo e atua nas áreas de jornalismo ambiental, sindical e de direitos humanos. Trabalhou na ONG R3 Animal, que faz resgate, reabilitação e soltura de animais marinhos em Santa Catarina. Escreveu e dirigiu o curta-metragem de ficção “Adelante, Professora”, seu primeiro filme que tem estreia prevista para 2025. Atualmente divide seus trabalhos entre assessorias de comunicação e as escritas e direções cinematográficas, iniciando sua jornada no cinema brasileiro.

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