
O filme retrata de forma poética a vida e a obra de um homem que sabia ser mais do que humano. Ou melhor, a grandeza de ser humano. Um homem santo para além dos templos, um homem santo das ruas. O professor Hermógenes incorporou a beatitude e fez da própria vida uma arte em si. Nós decidimos conversar sobre o filme e todas as reflexões que vieram à tona, de maneira a criar nesse texto um pouco do impacto afetivo que tivemos.
Juliana:Logo de cara eu fiquei muito emocionada com a presença amorosa do professor Hermógenes, senti que a sua comunicação é direta com o coração e transpõe a barreira da mente de uma forma muito verdadeira e, ao mesmo tempo, poética. Sendo ele um dos precursores da yoga no Brasil, é um exemplo de humildade, um Yogi exemplar.
Antonio: A primeira impressão que tive foi lembrar que quando começamos a praticar yoga, no final dos anos 90, isso era uma “coisa de gueto”, pequenos grupos que se encontravam em lugares alternativos para estudar no corpo uma filosofia oriental milenar. Naquele tempo, homens não faziam yoga, deveriam estar jogando futebol ou praticando jiu-jitsu. Era um homem, um militar, em uma sociedade machista que buscou um caminho alternativo para curar suas sequelas físicas geradas por uma tuberculose. O que ele encontrou através da yoga foi a fonte da felicidade que habitava o seu coração. Quando uma experiência como essa nos toca, o desejo é compartilhar para o maior número de pessoas.

Juliana: O fato de ele ser um mestre brasileiro e a maneira que ele trazia os ensinamentos, entretecidos com piadas de humor elevado e se colocando em xeque, aproxima a yoga do praticante. Uma filosofia milenar contextualizada para as necessidades e possibilidades daquele momento, isso é uma sabedoria imensa. E como ele trazia com humildade e o sentido de serviço. Imagina, ele escreveu mais de 30 livros, deixando um legado para todos que queiram se aprofundar na yoga como estilo de vida.
Antonio: Lembrando que ele trouxe esse conhecimento para nossa cultura na década de 70/80, quando não havia internet. O conhecimento chegava de forma rarefeita. A pouca literatura que chegava em nosso país vinha de longe. Viagens para a Índia eram caras e longas. Para ele receber esse conhecimento de forma tão fluida e natural, uma abertura espiritual profunda aconteceu, uma conexão com o campo quântico universal, um alinhamento com um propósito de vida. Muitos anos depois que já tinha escrito diversos livros, encontrou o seu guru Sai Baba. Seu livros já possuíam os ensinamentos do mestre, que vieram comprovar seu trabalho.

Juliana: O filme costura de forma fluida registros do professor com depoimentos de quem o conheceu em diferentes estágios da vida. Senti curiosidade e maravilhamento ao ir descobrindo outros aspectos desse ser humano que atuou como pai, militar e encontrou na yoga um caminho de volta para a saúde integral. Ele era respeitado e bem recebido em diversas linhagens espirituais porque todos reconheciam nele a verdade suprema que nos une, o amor. Me tocou a forma como ele realizava os Satsangs (em tradução livre: “encontros com a verdade”) com informalidade, piadas, canto e poesia.
Também me encantei com a parceria entre ele e a esposa, Maria, que me lembrou a nossa relação criando a Terra Tigre. Como eles estavam reunidos sob a luz da yoga, como foi ela quem percebeu a santidade de Sathya Sai Baba e insistiu para voltarem ao Ashram. Outra história que me tocou profundamente foi a Nádia, atropelada por um ônibus e amparada com os ensinamentos do professor para atravessar tudo e tanto.

Antonio: Todo ser humano evolui através do amor ou da dor. Este filme mostra como várias pessoas, inclusive o Professor Hermógenes, passaram por situações traumáticas e, através da yoga, foram conduzidas para o amor interior. Sinto que, na minha vida, a yoga me “salva” todos os dias. Comecei a sentir dores na coluna com 13 anos, tive uma adolescência repleta de ansiedade e insatisfação. Tive a oportunidade de conhecer uma Guru Indiana aos 17 anos que despertou em mim essa consciência do universo interior. Na época foi difícil integrar esse sentimento com a vida na sociedade, não tem como explicar em palavras essa experiência. Afirmo, por vivência, que o que o professor Hermógenes traz é verdadeiro. Todo ser humano tem um poder inato de autocura e regulação. Nossos problemas só podem ser resolvidos de dentro para fora. É no coração que habita a fonte da felicidade.
Juliana: Também me lembrei das experiências que tive ao nascer em um berço espírita, vendo a minha mãe desenvolver sua psicografia, clarividência e clariaudiência como serviço comunitário. Somos seres interconectados e, à medida que nos reconhecemos uns nos outros, alinhados com as virtudes divinas, arrefecemos o sofrimento individual e coletivo.
A “egoesclerose” que ele fala é mesmo o afastamento do coração, como “compramos emoções perturbadoras” e esquecemos que somos divinos. O professor Hermógenes foi esse mestre que ativou e ainda ativa, mesmo após a sua morte física, a lembrança do coração como caminho além das polaridades, de volta para a fonte. Ele tinha a capacidade de despertar a fé no próprio ser, acendendo a luz interior de cada discípulo e ativando o amor que somos em essência. Um grande filme sobre um grande Ser.

“ENTREGO,
CONFIO,
ACEITO
E AGRADEÇO.”
Esse foi seu mantra, essa foi a sua vida. Ele nos inspira, e seguimos propagando sua mensagem. Suas sementes germinaram no coração de seus discípulos e deixaram um forte legado para as gerações futuras. Uma boa árvore que rendeu flores e frutos. Somos gratos. Um filme emocionante que tem o poder de despertar os corações através da yoga.
Namaste
Neste texto e para ir além:

Documentário: Hermógenes: Professor e poeta do yoga, na aquarius

Livro: Autoperfeição com Hatha Yoga, de José Hermógenes

Série: Terra Tigre: Yoga Medicinal, na aquarius
