
Esses dias tive a oportunidade de assistir em primeira mão a um excelente documentário que foi lançado hoje no streaming aquarius: Mulher Yoga. Fiquei dias com o filme na cabeça me perguntando “quais são os segredos que estão por trás do yoga?”
Ao assistir, percebi que não é só aqui no Brasil que a grande maioria das pessoas buscam o yoga, inicialmente, focados na parte física. Eu inclusive me reconheci nessa estatística. Como fisioterapeuta e doula, venho focando a minha energia há algum tempo em trabalhar com mulheres durante a gravidez e o trabalho de parto. Quer algo mais físico do que isso? Acabei aprendendo com os atendimentos que o yoga poderia ser uma grande ferramenta para melhorar o desconforto e as dores de uma fase importante na vida de quem decide engravidar. Com Mulher Yoga percebi o quanto eu não estava sozinha.

Isso porque o yoga tem a capacidade de trabalhar o corpo da mulher, respeitando cada fase, mostrando que toda força que ela precisa para passar por todos os momentos da vida já está dentro dela. Seane Corn, uma professora de yoga revolucionária que ministra aulas em Los Angeles e participa de projetos voluntários na África, que disse:
“Se você quer se tornar mais forte, mais flexível, perder peso, o yoga é pra você. Mas se você quer sentir, permitir que a sua vulnerabilidade seja exposta, o yoga também é pra você”.
Seane observou, nos seus anos de dedicação como professora de yoga, que muitos alunos procuram o yoga querendo melhorar a postura, a flexibilidade, fazer invertidas ou posturas extremamente desafiadoras. Mas que com o evoluir das aulas, os mesmos alunos percebem uma melhora na parte física e começam a observar que outras áreas estão sendo beneficiadas, como a qualidade do sono, a respiração consciente, a alimentação, o controle dos pensamentos, a maneira como reagem aos desafios que aparecem e o controle da ansiedade.

Todas as professoras do filme têm a mesma percepção quando dizem que as aulas evoluem do físico para o mental: é como se os alunos fossem convidados naturalmente a fazer um mergulho interno, através do silêncio, da conexão com a própria respiração, da percepção das batidas do próprio coração. E é a partir desse momento que as pessoas ficam frente a frente com as suas próprias sombras e medos, que foram colocados embaixo do tapete. Um grande caos acontece dentro de cada um e o que antes parecia uma simples prática que levou o corpo a um bem-estar físico se transforma numa revolução interna.
A partir daí, uma avalanche de perguntas vêm à tona e todos os seus relacionamentos são mexidos profundamente. Essa confusão interior é o despertar da nossa consciência e, quando você menos espera, perguntas começam a surgir, como: “O que eu faço na vida me faz feliz?” ou “Eu estou sendo honesta com os meus sentimentos?”, “Eu sou hoje o que eu sonhava ser quando eu era criança?” e ainda “Os meus limites estão sendo respeitados?”.

Muitos se enganam ao pensar que o yoga traz passividade, no sentido de deixar as pessoas calmas e apáticas, sem questionamentos. O yoga te proporciona ferramentas para você mudar tudo aquilo que não é mais possível aceitar, e aceitar todas as coisas que não podemos mudar.
Eu já tinha ideia que a prática era realizada em todo o mundo, mas em Mulher Yoga constatei que essa informação representa cerca de 300 milhões de pessoas. E dessas, 80% são mulheres. No Mulher Yoga ficou bem claro que quando o yoga começou a ser praticado, as mulheres eram deixadas de fora, mas ao longo da história as mulheres tornaram o yoga um fenômeno mundial. Mulheres de todo mundo se juntaram, mudando esse cenário, percebendo que, ao se unirem, ao se acolherem, elas se curam. Uma mulher reconhece a dor de outra mulher, ela sabe o quanto é difícil dar conta de tanta coisa. O quanto somos cobradas o tempo todo, e por mais que a gente se esforce, estamos sempre com a sensação de que poderíamos ter dado mais. Pela casa, pelo trabalho, pelos filhos, pelo nosso corpo. A sensação é que nunca somos o suficiente. Então, quando mulheres se juntam para praticar yoga, elas estão buscando muito além de posturas desafiadoras, estão buscando conforto e paz em ser elas mesmas.
“Nunca vou ganhar dinheiro sendo professora de yoga, mas serei feliz cada dia da minha vida” – Seane Corn.

A Drª Sara Gottfried, diretora de um hospital renomado na Califórnia, relata no no filme que, cientificamente, vem sendo comprovado que a prática do yoga tem curado inúmeras doenças, como a depressão, a obesidade, o sedentarismo, a ansiedade, melhorando significativamente a qualidade de vida de mulheres, inclusive as que lutam contra o câncer e outras doenças.
Uma das partes que mais me chamou atenção no documentário foi ver a dedicação das professoras ao se doarem nos trabalhos voluntários em vários países. Um desses exemplos foi o trabalho que vem sendo feito para um grupo de mulheres soropositivas na Califórnia, que implementaram o yoga como parte da rotina — e as alunas, emocionadas, contam como esse movimento transformou as suas vidas.
Mergulhada em cada história emocionante narrada neste documentário, cheguei à conclusão que um dos segredos do yoga está, justamente, em perceber que não controlamos absolutamente nada do que está ao nosso redor, mas que temos total controle da maneira como reagimos diante das situações. E é a partir das mudanças internas que o yoga proporciona que encontremos um equilíbrio entre respeitar os limites físicos e emocionais, despertando assim o nosso melhor dentro da nossa casa, no nosso trabalho, no trânsito ou em qualquer lugar, fazendo diferença na vida das pessoas com que convivemos.

Mulher Yoga me fez ter certeza que eu estou no caminho certo, me fez lembrar do meu propósito como professora e como mulher, e ao final eu fechei os meus olhos ao som de “Om Namo Guru Dev Namo” um mantra em sânscrito que significa “Eu me curvo à sabedoria divina” e me lembrei, com o coração transbordando, de continuar comprometida, dando meu melhor para os meus filhos, alunos e pacientes e ensinando tudo o que o yoga me ensinou, mas principalmente pensando no comprometimento em despertar o meu melhor, todos os dias, para mim mesma, a pessoa mais importante da minha vida.
Neste texto e para ir além:

Filme: “Mulher Yoga”, na aquarius

Livro: “O coração do Yoga” – T. K. V. Desikachar